Carta de Heleno para Arthur
Aqui faz frio e chove quase todos os
dias, ouço em minha mente gritos de horror e agonia, ainda não sei como vim
parar nesse lugar. Vivo todos os dias como se fosse o ultimo, na verdade eu não
vivo apenas sobrevivo, sempre me esgueirando nas sombras dos esqueletos de
construções que um dia foram prédios e casas.
Dias passam e eu luto com todas as
forças para me manter em pé, me manter vivo. Minha visão já se adaptou a essa
escuridão. Nunca me esquecerei da minha vida antiga, nunca me esquecerei de
minha família, penso neles todos os dias e sempre brotam de meus olhos lágrimas
que inundam meu rosto.
Há muito já perdi a noção de tempo,
aqui nesse lugar não há como se basear nem pelo sol, pois as espessas camadas
de nuvens negras não deixam passar seus raios, a vegetação é tão rara quanto os
raios solares, os poucos seres vivos que ainda habitam este tenebroso e sombrio
lugar, sofreram mutações genéticas fazendo que os tais possam viver como
fantasmas, isso que somos; fantasmas perdidos, por um certo tempo eu fiquei em
uma caverna onde ainda haviam vestígios de uma nascente, fora a única vez que
consegui água potável, passava ali todos os dias, saindo apenas para caminhar
por alguns minutos e talvez tentar uma maneira de voltar para meu mundo eu
ainda tinha esperança, quem sabe talvez acordar de um grande pesadelo. Num
desses dias que eu decidira sair, tive uma estranha sensação de ser observado,
achei que talvez fossem os lobos, se é que podemos chamar aquelas criaturas
grotescas de lobos, eles não têm olhos, seus rostos é privados por completo de órbitas, eles são pequenos e magros, mas são extremamente agressivos se
alimentavam de ratos e insetos, eles sentem cheiro a quilômetros de distância, eles são desprovidos de olhos como eu disse, mas seus
olfatos eram apuradíssimos, não era raro encontrar estas bestas grotescas
vagando feitos loucos a procura de qualquer coisa que se move.
Continuei a caminhar sempre me
escondendo sob os escombros, então percebi um vulto, percebi que estava sendo
perseguido e o pavor se apossou de mim, então corri sem olhar para trás não
eram os lobos disso eu sabia então o meu medo se tornou cada ver maior, o medo
do desconhecido. Corri tanto que já não sabia onde estava havia perdido todos
meus pontos de referencia, fui parar em um local que nunca havia pisado então
avistei uma caverna e adentrei não com menos pavor, mas não tinha o que fazer,
a escuridão era total o lugar fedia a excremento de morcegos quase não
conseguia respirar, pelo menos parecia ter sumido o vulto que me perseguia com
tanta eficácia, encontrei uma pedra que lembrava a forma de um crânio humano e
nele me encostei para tentar tomar novamente o fôlego que de mim tinha fugido.
Passou assim algum tempo, ouvi
ruídos de insetos, resolvi então adentrar mais a fundo aquela imensa caverna
que mais parecia uma fortaleza esquecida, havia por todas as partes estátuas de
homens e mulheres, também avistei Sátiros, demônios e anjos, o chão estava frio
e úmido, minha vista já se adaptara a escuridão então pude averiguar bem o
ambiente, duas estatuas gigantes me chamaram atenção eram dois homens um de
frente para o outro eles tocavam as pontas dos dedos assim fazendo a forma de
um arco, e naquele espaço eu senti uma energia estranha algo que nunca
presenciara em vida, como se eu ouvisse vozes de crianças, canto de pássaros e
algo semelhante a correntes d’água, aquele som me chamou mais atenção e cada
vez que eu me aproximava sentia como aquela energia me puxasse para próximo das
estátuas, era uma passagem.
Ao aproximar-me da passagem algo
tocou em meu ombro então virei bruscamente, era uma criatura que por alguns
estantes parecia humana, ela ficou me observando por um tempo não conseguia ver
seu rosto, pois suas vestes tampavam por completo sua face e todo seu corpo, a
criatura me explicou que eu não poderia ultrapassar, pois em minha mente não
havia capacidade de aguentar toda força que o portal exigia do passante, a
criatura me explicou que esse portal nos levava para outros mundos outras
realidades, também me explicou que eu poderia me comunicar com outras pessoas
dessas realidades através de cartas e era uma maneira mais segura que os
portais.
Aquele ser tinha um odor forte de
algo que me lembrava hospitais, ela estendeu a mão e entregou-me uma carta e
essa carta era a sua ARTHUR.
Arthur sobre a sua pergunta a
respeito da vontade de ser livre, minha resposta é sim, é o que eu mais desejo
na vida, sinto-me feliz em poder me comunicar com outra pessoa assim já consigo
imaginar minha liberdade, minha liberdade da solidão.
Espero que possamos ser amigos e
ajudar um ao outro. Conte-me mais sobre suas aventuras em seu mundo.
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